junho 2009


Algumas semanas atrás, resolvi aplicar uma avaliação somente relacionada à interpretação de texto para minhas turmas de 8a série. Imaginei que iriam bem. Afinal, o conteúdo era algo que nós estamos trabalhando bastante: o gênero reportagem e o ano de 1968. Elaborei a prova da seguinte maneira: dois textos – sendo uma reportagem da Folha de São Paulo sobre o movimento estudantil naquele ano, e o outro, uma música do álbum “Tropicália ou Panis et Circense”, de vários compositores/cantores. Havia algumas questões abertas e outras fechadas. Pensei em elaborar questões com alternativas não para facilitar minha correção, mas para ajudá-los a lidar com este tipo de avaliação tão comum hoje em dia.

“Ah, tá muito fácil!”, pensei… Doce ilusão… Ao contrário do que eu imaginava, a maioria dos alunos foi MUITO mal, com notas bem abaixo de 5,0. Agora, cá com mues botões virtuais, penso: “O que deu errado?”

Não dá para atribuir o péssimo resultado somente aos alunos, dizendo que eles é que são distraídos, não fazem nada direito, são mal preparados. Com certeza, meu nível de exigência foi muito alto. Será que as questões estavam absurdamente difíceis? O que eu pedi não foi trabalhado como eu achava que tinha trabalhado?

Essas questões me levam a duas outras principais: como ensinar os alunos a fazerem prova? Quem me ensinou durante a licenciatura como elaborar uma avaliação?

Ensinar os alunos a fazer prova não é tão difícil, nada como algumas aulas e muita atenção e, quase com certeza, eles vão entender melhor como resolver as questões. Há problemas seríssimos de interpretação, atenção, leitura etc. que não serão resolvidos em apenas algumas aulas. Mas como os ensinarei a responder às avaliações se eu não sei como elaborar uma? O que mais se faz no magistério é copiar exercícios de livros didáticos, avaliações e, agora, internet. Eu sou uma dessas pessoas. Pra não ficar tão feio, apesar da cópia, devo dizer que também escrevo minhas avaliações. Um exemplo disso é a avaliação que elaborei na última semana. O resultado dela é que chocante.

Por que não aprendemos a elaborar avaliações? Será que eu dormi nesta aula? Como isso é abordado na licenciatura? Na verdade, a avaliação é somente um dos problemas da licenciatura, mas também deve ser discutido. Aliás, se há tantos problemas nas questões dos resultados das avaliações, será que alguém já pensou nas dificuldades dos professores em elaborá-las, corrigi-las e trabalhá-las em sala de aulas?

Ainda não terminei este post… Há muito o que ser discutido e pensado…

Aqui coloco as avaliações para saber se estava muito difícil, quais são os erros, problemas que vocês veem…

 

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Como seria minha escola ideal? Coloquei um post sobre isso, entretanto, eu mesma não escrevi.

Estou trabalhando este assunto com os alunos e estabelecemos algumas coisas: o objetivo da escola, a questão do tempo (horários), a maneira como as aulas são trabalhadas e a organização do prédio, da estrutura física. Vou tomar essas mesmas bases para meu texto. Gostaria também que todas as críticas fossem colocadas, quais problemas poderiam aparecer nesta escola, questionamentos etc.

Devo deixar claro que tudo o que está sendo escrito é somente minha opinião. Não sei dizer qual é o embasamento teórico para tudo isso… Provavelmente, há teorias que vão contra e que vão a favor do que penso. Ainda assim, este é um texto somente para sonharmos…

O objetivo da escola é a transformação do ser humano. A escola deveria ser o lugar onde as pessoas conseguem ter uma outra visão do mundo, conseguindo atuar melhor nele. Seres humanos capazes de questionar e transformar não só o seu próprio ambiente, mas capazes também de transformarem a si mesmos. O conhecimento não seria somente sobre o mundo externo, mas sobre o mundo interno também. Cidadãos conscientes de seus papéis, de sua força, de sua humanidade. A escola os ajudaria a tirar a venda que a falta de conhecimento impõe. Por isso, a escola tem que ser um lugar para se desenvolver as questões dos valores humanos – como diz Sai Baba: amor, paz, verdade, ação correta e não-violência.

Escola transformadora é escola em tempo integral. Como entender tudo, passar diversas experiências, aprender a estudar, desenvolver habilidades artísticas, esportistas, técnicas, se são somente 4 horas na escola? A escola em tempo integral não serviria somente para dar o que comer e tirar as crianças da rua, mas para dar a eles uma vivência mais completa do que ficar em casa vendo TV e jogando vídeo game. As aulas começariam às 7h30; às 9h, haveria um intervalo de meia hora; depois, ficariam até às 11h, onde haveria mais um intervalo de meia hora. As aulas da manhã se encerrariam às 12h30. Entre 12h30 e 14h, os alunos ficariam livres para almoçar, descansar, fazer o que bem entendesse. Às 14h, as aulas voltariam. Mas as aulas da tarde não seriam como as da manhã: atividades ligadas às artes, ao esporte, a projetos científicos; rodas de leitura, teatro, grupos de estudo e atividades afins.

Ainda não estou certa do modo como as aulas seriam trabalhadas: hora expositivas, hora em atividades grupais; ao invés de somente ficarmos falando, poderíamos, assim como eu vi num cursinho daqui de Ribeirão, colocar perguntas disparadoras em que os alunos buscassem as respostas. É certo que as salas seriam pequenas: 20 a 25 alunos no máximo, o que possibilita trabalharmos em roda, montar grupos pequenos, duplas menos barulhentas. Provocar os alunos de modo que eles não sossegassem enquanto não descobrissem as respostas aos seus questionamentos. Acho que o impossível é escolher somente um método e segui-lo para sempre. Projetos são tão importantes quanto as aulas expositivas, procurar as respostas podem trazer outra visão do conhecimento tanto quanto escutar alguns especialistas – como o professor. As aulas seriam um universo de possibilidades relacionadas ao conhecimento.

A escola tem que ser grande. Não sei se com muitos alunos, mas ter um espaço físico bacana: muitas árvores, muita planta, quadras poliesportivas, auditório, laboratórios, biblioteca grande e decente, refeitório, sala de vídeo, sala de computador, horta, pomar, etc. Entre tudo isso, entretanto, o principal é a sala ambiente. A sala ambiente, por mais facilitadora do “passeio” dos alunos (e os inspetores odeiam), é fundamental para um trabalho personalizado, individual, em que o professor consegue propiciar todas (ou quase todas) as ferramentas para um ensino melhor. Adoro sala ambiente, não consigo ser convencida por nenhum outro argumento…. Acho também que os professores poderiam ter uma sala melhor. A sala dos professores, além da tradicional mesa para o café, ops!, para reuniões, deveria ser grande o suficiente para que cada um tivesse sua própria mesa, um armário digno e uma estante particular de livros. Como trabalharíamos tempo integral na escola, seriam poucos professores, o que não torna o espaço impossível.

Nesta escola, os pais não seriam aqueles que entregam seus filhos na entrada e buscam na saída. Os pais seriam os parceiros, os amigos. Pessoas que acreditam neste lugar e que participam desta construção, do modo como podem, mas ajudando a fazer a escola dar certo. Ao invés de pessoas trabalhando sozinhas, seria um grupo trabalhando junto pelo mesmo objetivo. Aí, posso incluir também direção, coordenação, pais e professores.

Existem muitas ideias, mas acho que, por enquanto, estas são suficientes.

 

Nossa, olhando para esta escola ideal percebo como algumas coisas estão distantes… provavelmente, por mais que eu lute, acho que vou morrer sem vê-la… Mesmo assim, não custa nada sonhar, não é? Vai que alguém escuta e consegue realizar algo assim?

Segue abaixo o bilhete enviado por mim e a resposta dada pela mãe

Meu bilhete

“Sr. Responsável:

O aluno fez apenas uma lição durante todo o ano. Isso o prejudica muito.

Obrigada, Professora”

A resposta da mãe

Prezada Professora,

Eu lamento muito a postura de meu filho. Realmente é vergonhosa. Mas infelizmente ele não se interessa pelos estudos. Já  levei à psicóloga, psicopedagoga e nenhum problema cognitivo foi identificado. Já usei todos os argumentos possíveis (desde pancada até suborno), mas não há nada que o convença da importância dos estudos.

Há 6 anos vou às reuniões da escola ouvir a mesma coisa: Seu filho não faz nada.

A senhora deve achar um descaso eu não ter tomado nenhuma providência mesmo vendo seus cadernos em branco.

Mas o motivo é porque eu desisti de brigar com ele, desisti de gritar, de xingar.

Vou cumprir meu papel de mãe, educando-o, mostrando o caminho da ética e da responsabilidade. Irei obrigá-lo a concluir seus estudos até o 3o colegial e só.

O Fulano sabe exatamente onde os estudos pode levá-lo. Mas parece que ele não se importa.

Então proponho que façamos (nós 2) a nossa parte e deixemos que a vida mostre para ele no futuro, a oportunidade que ele perdeu.

Caso a senhora note algum desvio de comportamento, ou ele falte com o respeito com algum professor, quero ser notificada. Pois isso não permitirei.

Mas quanto aos estudos, vou lhe dar um conselho: não perca tempo com meu filho. Invista seu precioso tempo em crianças que mereçam seu esforço.

Um forte abraço,

Mãe

Sei que talvez não seja correto eu colocar o bilhete aqui, entretanto, me entristece muito algo assim – eu tinha que trazer para mostrar do que eu estava falando.

Não consigo acusar a mãe de nada, ao contrário, ela é muito corajosa em assumir até onde pode ir. Mas, se pararmos pra pensar, novamente, não é responsabilidade só da mãe. A sociedade que estamos construindo é essa: não há valorização do conhecimento, só há busca de dinheiro e fama, só há a preocupação com o fútil. Como queremos que nossos filhos sejam diferente disso?

Uma escola mais motivadora, na maioria das cidades, é particular. Quantas escolas públicas conseguem desenvolver o gosto pelo saber? Mesmo a maioria das particulares também não conseguem atingir esse nível. Que culpa essa mãe tem de não poder mudar a criança para uma escola em que, talvez, seu filha se sinta mais motivado?

Sim, eu sei. Tem muita coisa envolvida. Não sei como são as coisas neste lar e não conheço a mãe pessoalmente. Mas dá para perceber muitas coisas em seu bilhete: é estudada (pois escreve bem), tem consciência, preocupa-se com o caráter, o filho é um doce. Ela só deve estar tão perdida quanto nós estamos…

Amanhã mandarei um bilhete pedindo para que ela vá à escola. Tomara que dê certo, pois, com certeza, o filho dela merece tanto quanto as outras crianças.